LA POESÍA
¿Qué otra cosa eres poesía
Sino la visión de la noche?
Todo lo nocturno te pertenece.
Nos invitas a los espléndidos banquetes de los sueños
Y a las no menos espléndidas vigilias de la realidad.
Viajas con el hombre y la mujer como si fueras
La llama de sus ojos, el bordón de su felicidad
O el humo espeso de los amaneceres.
Para ti, madre del dolor, sólo hay gloria y pesar,
Pues el mediodía no está escrito en tus agendas.
Ninguna otra cosa eres, poesía,
Que lá más alta cima donde el loco,
Los mortales, todos los desheredados de la suerte
y la fortuna
Encuentran cobijo.
Tú, la detestada, la leprosa, la pustulienta,
Eres la mejor de las hembras
La mejor madre
La mejor esposa
La mejor hermana
Y la más larga y gozosa de las noches.
A POESIA
Que mais és tu, poesia,
Do que a visão da noite?
Tudo o que é noturno te pertence.
Tu nos convidas aos esplêndidos banquetes dos sonhos
E às não menos esplêndidas vigílias das realidade.
Viajas com o homem e a mulher como se fosses
A chama de seus olhos, o bordão de sua felicidade,
O fumo espesso dos amanheceres.
Para ti, mãe da dor, só há glória e pesar,
Pois o meio-dia não está escrito em tuas agendas.
Nada mais és, poesia,
Do que o mais alto píncaro onde o louco,
Os mortais, todos os deserdados
Da sorte e da fortuna
Encontram agasalho.
Tu, a detestada, a leprosa, a pustulenta,
És a melhor das fêmeas
A melhor mãe
A melhor esposa
A melhor irmã
E a mais longa e gozosa das noites.
SI NUNCA VINIERON
Si nunca vinieron
¿Por qué desesperas?
Tu casa no tuvo puertas
Donde golpear
Ni zaguanes para pasearse de tarde.
Madre, díme,
¿Qué hacemos aquí parados
En esta noche llena de polvo?
Buses llenos de muerte pasan veloces,
Borrachos de camisas suadas
Eructan e eyaculan solitarios.
Solo los que habitan pueblos de olvido
Conocen la cercanía de la muerte,
El hedor de la soledad,
La máscara del tedio.
SE NUNCA VIERAM
Se nunca vieram
Por que desesperas?
Tua casa não teve portas
Onde bater
Nem saguões onde passear à tarde.
Mãe, diz-me,
Que fazemos aqui parados
Nesta noite coberta de pó?
Ônibus repletos de morte passam velozes,
Bêbedos de camisas suadas
Arrotam e ejaculam solitários.
Só os que habitam povoações de olvido
Percebem a proximidade da morte,
O fedor da solidão,
A máscara do tédio.
DA ARISTOCRACIA
Da aristocracia
Tudo fica:
A boa vontade,
O amor ao próximo,
As boas maneiras
E o calor humano.
Nós os servos,
Comprazemo-nos
Em copiar.
Versão de Amadeu Baptista
ALVARADO TENORIO, Harold. De los gozos del cuerpo. Palma de Mallorca, España: Agatha, 2014. 179 p. 14x21 cm.
LA TARDE VA CAYENDO EN SU GRIS
La tarde va cayendo en su gris
y uno que otro disparo de fusil o revólver
recuerda que estás en tu país de muertos.
Alguien volverá a llamar esta tarde,
alguien sin esperanza.
Que la tarde muera como mueres hoy
en el silencio del primer día de un año
como tantos otros del pasado.
A TARDE VAI DESCENDO EM SEU CINZA
A tarde vai descendo em seu cinza
e um outro disparo de fuzil ou revólver
lembra que estás em teu país de mortos.
Alguém voltará a chamar pela tarde,
alguém sem esperança.
Que a tarde morra como morres hoje
no silêncio do primeiro dia de um ano
como tantos outros do passado.
DE LA BUROCRACIA
Amo los burócratas.
La sola noción de su nombramiento
los hace invulnerables.
Toda vida y destino
les ha sido entregada
—mientras estén allí—
Burócratas pulidos por las ocho horas,
los descansos y el perfume de las fiestas anuales
de seis a ocho.
¿Cómo no amar sus cónyuges
si aguardan,
cada noche, al final de la cena,
un nuevo temor,
un renovado odio del jefe de división?
Tú que me lees, hermana o hermano,
ama tu burócrata.
No sea que se convierta
en un mal irreparable.
DA BUROCRACIA
Amo os burocratas.
Apenas a noção de sua lembrança
os torna invulneráveis.
Toda a vida e destino
lhes foi entregada
— enquanto ali estejam —
Burocratas polidos pelas oito horas,
os intervalos e o perfume das festas anuais
de seis às oito.
Como não amar seus cônjuges
se aguardam,
a cada noite, ao final do jantar,
um novo amor,
um ódio renovado do chefe do setor?
Tu que me lês, irmã ou irmão,
ama teu burocrata.
Tomara que não se converta
em um mal irreparável.
HERENCIA
La única herencia de mi padre
[dijo Yusufibn al-Sayj al-Balawi]
fue unos grandes testículos.
Qué gran legado, pensó,
¡qué gran legado!
HERANÇA
A única herança de meu pai
[disse Yusufibn al-Sayj al-Balawi]:
uns enormes testículos.
Que enorme legado, pensou,
que enorme legado!
(Tradução: Antonio Miranda)
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BARROSO, Maria do Sameiro, coord. Doce Inimiga, Solidariedade com a Colômbia (antologia) . Fafe, Portugal: Labirinto, 2013. 40 p. 14x21 cm. Capa: Júlio Cunha. ISBN 978-989-8386-45-8
(antologia de poetas portugueses e colombianos apresentada en evento literário na Livraria 100a. Página, em Braga Portugal, no dia 11 de maio de 2013, promovido pelo World Poetry Movement).
HAROLD ALVARADO TENORIO
Anotaciones
Dulce enemiga
que llevas al hombre
más allá de si mismo.
Adoro tus perfecciones
y tus fulgores sobr mi cuerpo helado.
Recorres a zancadas
los cielos nada apacibles
y las estrelas incessantes
y las estrellas quietas.
Bella al alba y al crepúsculo
dueña de la vida
todo te magnifica.
Ante vosotros llego
soberanos de la gran ramera
con la vieja segadora de vida.
Otorgadle,
como a los secuaces del gran negocio,
pasteles y agua y aire
y uma casa solariega en Manhattan.
Retrocede, Sul,
viejo cocodrilo
no me acometas
vete
no cortarás mi juventude.
Mis versos
como cuchillo de pedernal,
mis versos como muelas de joven caballo,
destruirán tus ojos y tu boca.
Anotações
Doce inimiga que conduzes o homem
mais para além de si próprio.
Adoro as tuas perfeições
e os teus fulgores sobre o meu corpo gelado.
Percorres a passadas os céus
— nada aprazíveis — e as estrelas incessantes
e as estrelas quietas.
Bela à alva e ao crepúsculo
dona da vida tudo te magnifica.
Perante vós chego soberano da grande
rameira com a velha ceifeira de vidas.
Entregai-lhe, como as sequazes do grande
negócio, pasteis e água e ar
e uma casa solarenga em Manhattan.
Retrocede, Sul, velho crocodilo
não me ataques vai-te
não cortarás a minha juventude.
Os meus versos como punha de pedernal,
os meus versos como molares de jovem cavalo,
destruirão os teus olhos e a tua boca.
(Tradução de Antonio Salvado)
IARARANA – revista de arte, crítica e literatura. Salvador, Bahia. No. 9 – agosto 2004. Ex. bibl. Antonio Miranda
DOIS POEMAS COM TRADUÇÃO DE
FLORIANO MARTINS
LA AMISTAD
La amistad, entendieron otros,
Era una prolongada conversación sobre
El consumo del tiempo
Haciendo los días perdurables.
La amistad era gozo de las palabras
Y un memoroso ajedrez
Terminando paradas en placer,
Por jugar con los gestos y la voluntad.
La amistad, vieja moneda errabunda,
Nos es ofrecida ahora por ancianos,
Enfermos, animales, borrachos y locos.
Nada saben, los hombres, de ella:
La fugitiva de los siglos.
A AMIZADE
A amizade, entenderam outros,
Era uma prolongada conversa sobre
O consumo do tempo
Tornando os dias perduráveis.
A amizade era gozo das palavras
E um memorável xadrez
Terminando partidas em prazer,
Por jogar com os gestos e a vontade.
A amizade, velha moeda errabunda,
Nos é oferecido agora por velhos,
Doentes, animais, bêbados e loucos.
Nada sabem, os homens, dela:
A fugitiva dos séculos.
A SUS OJOS DE HEMBRA DEL MEJOR CABARET
Que el poema la retrate
Sólo como la viste en el tiempo
Que quiso darse a tus ojos y a tu alma.
Hecha de la dura memoria de la carne
Mostraba la astucia y el candor
De quien presentía
La huella que deja otro corazón.
Así la deseabas.
Querias someterte al desdén que promete
El oro de la juventud.
Estabas dispuesto
A sufrir el rigor de sus ojos de hembra
Del mejor cabaret: la vida.
A SEUS OLHOS DE FÊMEA DO MELHOR CABARÉ
Que o poema a retrate
Somente como a viste no tempo
Que quis dar-se a teus olhos e à tua alma.
Feita da dura memória da carne
Mostrava a astúcia e a candura
De quem pressentia
A marca que deixa outro coração.
Assim a desejavas.
Querias te submeter ao desdém que promete
O ouro da juventude.
Estavas disposto
A sofrer o rigor de seus olhos de fêmea
Do melhor cabaré: a vida.
Antonio Miranda e Harold Alvarado Tenorio no Festival Internacional de Poesía de Granada, NIcaragua, em 2014.
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